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Esta investigação explora como o design participativo (DP), o design especulativo e a narrativa urbana podem ser usados para reinventar espaços urbanos e responder às necessidades emocionais, culturais e funcionais das comunidades. Neste contexto, entendo o design participativo (DP) como um processo fundamentado na convicção de que os ambientes são mais significativos e eficazes quando quem os habita participa ativamente no seu desenho e gestão, em vez de ser tratado como destinatário passivo (Luck, 2018).

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O design especulativo, aqui, não é visto como uma forma de prever o futuro, nem de resolver problemas, mas sim como uma prática de esperança (Thackara, 2013, citado em Mitrović, Auger, Hanna & Helgason, 2021), também alinhada com a perspetiva de bell hooks (1994), para quem a educação é uma prática de liberdade, crítica e imaginativa, que aborda desafios sociais e ambientais complexos não resolvendo-os, mas abrindo espaço para reflexão e diálogo. A narrativa urbana, neste enquadramento, inspira-se na metáfora de Michel de Certeau (1984): caminhar pela cidade como forma de discurso, onde as ações quotidianas que marcam o espaço inscrevem significado nos lugares.

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Este estudo investiga como as pessoas conceptualizam “edifícios em falta” nas suas cidades e de que forma esses espaços imaginados contribuem para o discurso urbano mais alargado. Estes “edifícios em falta” funcionam como ausências simbólicas que refletem necessidades não satisfeitas, identidades negligenciadas ou futuros imaginados. Ao unir perspetivas locais e internacionais, o estudo promove metodologias criativas, acessíveis e orientadas pela comunidade, que valorizam a experiência vivida e a construção coletiva de significado no ambiente construído.

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Num momento em que os discursos globais interrogam quem tem o direito de ocupar, controlar ou pertencer a determinados lugares, esta investigação posiciona a pedagogia como uma prática crítica, que facilita o diálogo, desafia narrativas de exclusão e fomenta abordagens democráticas à criação do espaço urbano.

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Adota-se uma metodologia autoetnográfica evocativa e dialógica para explorar como a experiência pessoal se cruza com narrativas culturais e espaciais mais amplas. A autoetnografia evocativa, conforme desenvolvida por Ellis e Bochner (2016), enfatiza a consciência emocional, a subjetividade e a narrativa como formas válidas de conhecimento. Permite um envolvimento profundo com o self como espaço de investigação, oferecendo uma forma de examinar pertença, identidade e lugar através da experiência vivida. Quando falo numa abordagem dialógica, refiro-me a uma forma de pensar e escrever que me coloca em diálogo com as minhas versões anteriores: a criança, o adolescente, o jovem adulto, a arquiteta e a educadora que sou hoje. Isso não é apenas reflexão, é escutar atentamente todas essas vozes e os lugares a que pertencem.

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Estas narrativas em camadas permitem-me refletir sobre quem sou e quem fui, e sobre como o lugar, a identidade e a pertença se co-constroem ao longo do tempo, da cultura e da prática.

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Este trabalho baseia-se teoricamente e eticamente na teoria da pedagogia engajada de bell hooks (1994, 2003), que entende a investigação como uma prática de presença, reflexão crítica e mudança social, onde as cidades são não apenas sítios físicos, mas espaços vividos, relacionais e contestados. A criação de cidades torna-se, assim, um ato pedagógico e político, moldado pelas experiências vividas por quem já as habita (hooks, 1990, 2003; de Certeau, 1984; Pillow, 2003).

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A investigação envolve 20 participantes distribuídos por seis países, cada um representando uma cidade que marcou uma etapa diferente da minha vida e prática. Cada cidade constitui um capítulo na tese, onde me envolvo em diálogo interno entre a minha versão atual e as versões passadas em cada lugar (etnografia dialógica), mobilizando memória, experiência corporificada e ressonância emocional (etnografia evocativa).
 

  • Beira (Moçambique): memória ancestral e intergeracional.

  • Cambridge (Canadá): infância.

  • Sardoal (Portugal): adolescência.

  • Roterdão (Países Baixos): arquitetura

  • Chester (Reino Unido): pedagogia e investigação

    Estas não são cidades consideradas casos de estudo no sentido tradicional, mas lugares simbólicos e formativos que continuam a moldar a minha prática



     
















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Em cada localidade haverá quatro participantes: uma criança, um adolescente, um adulto, e um profissional (arquiteto, planeador urbano ou urbanista). Juntos, apresentam uma amostra intergeracional (com equilíbrio de género) da comunidade e espelham simbolicamente as diferentes fases da minha vida nos países aqui representados, que explorarei através do diálogo reflexivo em cada capítulo. As vozes dos participantes proporcionarão perspetivas contemporâneas e situadas que servem como pontos de contraconto às minhas reflexões internas e históricas. Cada participante responderá à pergunta “Qual é o edifício em falta na Beira/Cambridge/Sardoal/Roterdão/Chester?”, cada participante ira receber uma caixa criativa que vai conter materiais para desenvolver uma maquete e escrever e escrever um breve reflexão que descreve o espaço imaginado. 

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Embora nunca tenha vivido na Beira, esta cidade tem um profundo significado cultural para mim. É um lugar que conheci através das histórias do meu pai, dos seus amigos próximos, e dos meus tios e avós. Este capítulo envolve Beira como um lugar de pertença herdada, construído não através da experiência direta, mas através de laços afetivos e continuidade cultural. Inspirando-me na teoria do "homeplace" de bell hooks (1990), considero como a identidade e a pertença podem emergir não apenas através da presença geográfica, mas também através de práticas emocional e culturalmente situadas, como a narrativa oral, a linguagem, a comida e a memória. O lugar ganha vida não apenas na presença física, mas na transmissão intergeracional de significado e ligação. Neste capítulo, entrevistarei o meu pai para co-construir uma narrativa intergeracional que fale da complexidade da pertença herdada.

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O projeto questiona: que tipo de cidades estamos a construir e para quem? Trata o espaço não como uma realidade neutra, mas como moldado por relações sociais, por conflitos e por memórias. Invocando a noção de esperança de bell hooks como lugar de possibilidade, explora a ausência como um convite a ouvir de forma diferente, aprender quem pertence, quem decide e quem é deixado de fora (hooks, hierarquias do conhecimento: 1994; 2003; 2010). Num momento de fronteiras em ascensão e política de separação, imaginar o que está em falta torna-se um ato silencioso de resistência, uma forma de interromper narrativas dominantes e avançar para uma construção urbana mais justa e humana.

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Esta investigação pergunta: Como podem o design participativo e especulativo: informados pela pedagogia crítica e pela autoetnografia narrativa, desafiar narrativas urbanas excludentes e reinventar a criação da cidade enquanto prática democrática, relacional e reflexiva?

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Pretendo compreender como as pessoas conceptualizam os "edifícios em falta" nas suas cidades e como esses edifícios e as histórias que lhes são atribuídas revelam valores, memória, exclusão e aspiração. Aqui, a ausência transforma-se em lugar de resistência e de possibilidade (hooks, 1994), incitando-nos a questionar quem detém poder na configuração do ambiente construído e cujas necessidades são sistematicamente desvalorizadas.

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A criação de "edifícios em falta" não é encarada como simples recolha de dados, mas como uma intervenção pedagógica que instiga pensamento crítico, diálogo e agência criativa. Este trabalho está enraizado na pedagogia engajada de bell hooks, que coloca o aprender como prática relacional, situada e transformadora (hooks, 1994, 2003). O design especulativo torna-se aqui um método de pedagogia crítica: um meio de fomentar consciência, reflexão e ação sobre como as pessoas percecionam e moldam os seus ambientes.

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Através da autoetnografia evocativa e dialógica, interrogo a minha própria relação com cada cidade do estudo, mobilizando memória pessoal, identidade e ressonância emocional. Estas narrativas reflexivas estabelecem um diálogo entre passado e presente, entre investigadora e participante, entre cidade e narrativa.

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No fim, procuro entender como o design participativo: informado pela pedagogia e pela narrativa reflexiva, pode servir como ferramenta para pensar criticamente sobre lugar e poder. O que emerge quando se imagina o planeamento urbano não como ato vertical, mas como processo cultural, político e educativo compartilhado?

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O significado desta investigação reside no seu método interdisciplinar e no seu compromisso com o conhecimento co-construído. Contribui para conversas mais amplas sobre justiça espacial, pedagogia crítica e envolvimento público, ao mesmo tempo que coloca no centro as vozes dos participantes e os contextos de onde emergem. O projeto assenta numa ética de cuidado, oferecendo aos participantes autonomia criativa, protegendo o anonimato e valorizando as dimensões culturais, sociais e emocionais das suas contribuições.​​​​​​​​​

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